segunda-feira, dezembro 06, 2004

João João Puré - Uma autobiografia (escrita por outrém). Parte II

A angústia existencial de João João continuou nos anos seguintes, tendo sofrido uma série adicional de desilusões. Após passar mais de 10 anos a aprimorar a técnica de sincronização de sobrancelhas, alguém lhe explicou por fim que não era um desporto, o que o lançou numa busca desesperada por afirmação noutra área. Dada a absoluta incapacidade para praticar qualquer tipo de desporto sem causar ataques de riso incontrolável por parte dos outros atletas, decide criar sozinho uma liga de futebol com 20 equipas, todas compostas e treinadas por ele. No entanto, após alguns meses, a liga é encerrada por problemas de indisciplina e corrupção.

Angustiado, encontra refúgio no fundo de uma garrafa, tendo sido necessários 5 bombeiros e uma máquina de sucção para o retirar de lá de dentro.

Ainda mais angustiado e coberto de nódoas negras, alista-se no exército, mas por engano vai parar ao rancho folclórico de Carrazeda de Ansiães, onde é obrigado a dançar coberto de pickles, o que o traumatiza para a vida. Convencido que os elementos do rancho lhe querem roubar as plantas dos pés, foge para o estrangeiro (João João tinha uma ideia bastante abrangente do que era o ‘estrangeiro’, considerando-o como tudo que se situasse a mais de 500 m do local onde estava) com a ajuda de um amigo imaginário (que o acompanharia ao longo da vida) e desaparece durante um dia e meio. Quando volta ao país, é um homem diferente (essencialmente porque havia aparado as patilhas).

Imbuído de uma nova vontade de viver (‘vontade de viver’, como ele gostava de se lhe referir), tenta patentear a expressão ‘eh lá’, até que alguém lhe disse que era uma ideia ‘estúpida’.
Por esta altura, a sua obra reduzia-se a meia dúzia de linhas num caderno com a palavra ‘batata’ e um desenho numa parede de uma casa particular com um símbolo fálico (o que lhe terá valido uma repreensão por parte da polícia e a profunda convicção, daí em diante, que era perseguido pelo poder político). Vários críticos tentaram, nos últimos anos, dissecar o referido poema (Batata), hoje considerado emblemático da obra de João João, mas o seu génio era marcante e de invulgar alcance, pelo que alguns arrogantes intelectuais da praça consideram o poema como ‘uns rabiscos com a palavra batata repetida cerca de 57 vezes’.