João João Puré - Uma autobiografia (escrita por outrém). Parte I
Muita boa gente desconhece esse absoluto monumento das artes, que mais fez pela Arte em Portugal que muito boa gente (a mesma que o desconhece), o célebre artista e famoso misantropo e andrógino João João Puré. Para entender o alcance da obra de João João será necessário várias fitas métricas e uma botija de água quente. Assim como perceber de onde veio João João e o que o fazia correr (além dos cães raivosos que sistematicamente o perseguiam).
João João nasceu em 1845 ou em 1945 (existem defensores das duas teorias – a sua incrível má aparência tornava virtualmente impossível descobrir a sua idade), no seio de uma família de mimos. Tendo nascido em tempos difíceis, a família ocupava um degrau numas escadas de uma casa degradada, o que se tornava particularmente difícil para uma família de 27 pessoas. Mais tarde, e através de um significativo esforço financeiro (consubstanciado na venda de vários elementos da família como abajours), a família chegou a ocupar dois degraus.
João João teve uma infância particularmente complicada, dado possuir um problema de saúde invulgar, denominado de ‘perfeita idiotice’, que o obrigava a usar meias nas orelhas e a correr desenfreadamente contra paredes.
João João, de acordo com documentos históricos, terá sido objecto de violência física durante vários anos por parte do pai, que o costumava espancar com bacalhau e aipo. Bastante mais tarde, o pai tentou defender-se dizendo que utilizava João João para amolecer o bacalhau (uma das exigências de uma receita famosa que gostava de efectuar – bacalhau com grão). Talvez por isso, João João suspirava de alívio quando o pai chegava a casa com sardinhas e desenvolveu uma profunda relação de dependência face a estas, tendo inclusivamente tentado casar com uma.
João João passou tempos difíceis na escola, sendo notada a sua particular ausência de qualquer tipo de capacidade para raciocínio lógico. Aliás, este problema foi particularmente notado pela sua professora na escola primária, que terá inclusivamente assinalado que João João tinha ‘uma particular ausência de qualquer tipo de capacidade para raciocínio lógico’. Soube-se mais tarde que a frase completa proferida pela professora incluía a menção ao facto de ‘ser um atrasado mental profundo que gosta de se vestir de costureira’, mas por pressão do pai de João João (que apareceu na escola com um gigantesco bacalhau), essa frase foi apagada dos registos escolares.
João João teve muitas dificuldades em acabar a escola primária, devido à sua inadaptação ao meio que o rodeava e ao facto de ser burro. A sua revolta, resultante de ser sistematicamente impedido de jogar à bola com os restantes companheiros de escola (o facto de João João nessa altura preferir jogar à bola vestido de urso nunca foi compreendido pelos companheiros – e em boa verdade, nem por ele), e a morte de um dos seus animais de estimação imaginários (foi imaginariamente atropelado) resultaram num choque que o atirou para uma cadeira de rodas. Felizmente não se magoou e levantou-se rapidamente, proferindo a profética frase: ’quem é que pôs aqui a porcaria desta cadeira de rodas?’.
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