segunda-feira, dezembro 06, 2004

João João Puré - Uma autobiografia (escrita por outrém). Parte III

É nesta altura que João João assume a sua relação com uma personagem de ficção de um livro de banda desenhada, tendo inclusivamente tentado casar, o que se veio a verificar ser impossível por pormenores burocráticos (a tentativa de casamento com animais, objectos inanimados e personagens de ficção foi, aliás, um elemento omnipresente ao longo da sua vida). Passado algum tempo, João João convence-se que apenas será levado a sério se o seu nome incluir um apelido que inclua um respeitável ‘de’, pelo que tenta mudar o nome de 'João João Catrapila' para 'João João Puré de Batata'. No entanto, sucede um grave erro administrativo e o ‘de Batata’ é inadvertidamente ignorado. Ainda tenta, numa manobra de protesto, fazer greve de fome em frente ao Registo Civil, mas passado um quarto de hora não resiste a uma bifana. João João fica João João ‘Puré’, o que o traumatiza para o resto da vida.

As influências da infância e adolescência de João João são marcantes no seu trabalho, que consistia basicamente em quadros e poemas em que abundam as sardinhas e os mimos, espancamentos com bacalhau e elementos de ranchos folclóricos descalços.
Segundo o próprio, o seu trabalho recebia a influência de uma panóplia de áreas e meios culturais, que iam desde o cinema e teatro, até aos concursos de escarretas promovidos pela Junta de Freguesia do Marmeleiro.
A nível do meio cinematográfico, o seu trabalho terá sido bastante influenciado por dois filmes alternativos que o marcaram. O ‘Bambi’ e um filme francês obscuro cujo nome ele nunca descobriu porque não sabia falar francês, e cujo argumento envolvia um repolho assassino. Aliás, João João era bastante selectivo na escolha dos filmes que via porque tinha um medo irracional de ir ao cinema, uma vez que suspeitava que existia uma conspiração para lhe roubar as sobrancelhas sempre que se encontrava no escuro de uma sala de cinema (resquícios da teoria de perseguição por parte do governo). Isto motivava invariavelmente a sua ida ao cinema com um capacete e frequentes rixas com os elementos da fila de trás, tendo numa ocasião João João acabado detido por alargar desmesuradamente as narinas de uma pessoa no cinema.
Em 1875 (ou 1975, consoante as versões) profere um dos seus mais famosos axiomas. Instado a elaborar sobre o significado de um poema seu intitulado ‘O mimo e o bacalhau’, diz: ‘o mundo é como uma feijoada: tem muitos feijões e dá gases’. Esta desconcertante afirmação encerra em si o essencial da filosofia de João João.