Conselhos Práticos Para Beberrões (Parte I)
Infelizmente, aqueles que ostentam com orgulho a honra que é ser bêbado declarado ainda são uma minoria, e esbarram infinitas vezes com a incompreensão de abstémios e fundamentalistas afins. Como tal, esta série de Conselhos Práticos para uma Beberrologia Compreensiva pode estender no caminho para a inconsciência etilizada uma passadeira discreta que torne a viagem mais suave e livre de problemas com os quais todos nós que procuramos a dissolução Dionisíaca acabamos por nos deparar mais cedo ou mais tarde.
1. COMO VOMITAR EM CASA DE UM AMIGO SEM DEIXAR VESTÍGIOS
Papel higiénico é a palavra-chave. Se o bêbado em questão ainda tiver discernimento suficiente e souber que a regurgitação está próxima, a melhor maneira de o fazer sem sofrer o estigma da perseguição e derrogação dos Não-Bebedores (ou do dono da casa onde se está) é dirigir-se à casa-de-banho mais próxima, de forma o mais discreta possível. Ao entrar na casa-de-banho, há que preparar o ritual convenientemente. Enrolar várias folhas de papel higiénico no fundo da sanita, de forma a que o vomitado não se espalhe pela porcelana, colocar-se de forma erecta, apenas com cabeça virada para baixo. Caso o estado da bebedeira seja já crítico e o bêbado tenha que abraçar a sanita por forma a não a falhar, aconselhamos que o faça com o corpo esticado, os braços em volta da sanita e a cabeça directamente sobre a abertura da mesma. Vomitar dobrado é doloroso, e dificulta o processo em grande medida.
Assim que a regurgitação termina, há que puxar o autoclismo. O papel higiénico absorverá o vomitado e levará consigo grande parte do cheiro nauseabundo que normalmente o acompanha. Se a casa-de-banho tiver no lavatório um recipiente com sabonete líquido, fazer 3 descargas distribuídas de maneira uniforme (o mais possível), e puxar de novo o autoclismo. Ajudará a retirar algum do cheiro que porventura tenha subsistido. Lavar a cara com água fria (a água quente aumenta as olheiras e dá um ar ainda pior a qualquer recém-regurgitador) e secar bem.
A última fase não é consensual e pode ser efectuada de formas distintas: eliminar o hálito maléfico. Mais uma vez, no sabonete líquido pode estar a solução. O sabor do mesmo não é, de todo, desagradável e pode ajudar a retirar o mau hálito. Atenção: não aconselhamos ninguém a engolir, apenas a bochechar com o mesmo.
A segunda forma é mais consentânea com o estatuto de um verdadeiro bêbado digno deste honrado rótulo e é uma tradição milenar que remonta já a Roma Antiga. Assim que sair da casa-de-banho, o verdadeiro AU procura imediatamente a bebida mais forte que conseguir encontrar, para retomar o seu propósito de atingir a iluminação etílica.
Quando a bebedeira não o permite, uma varanda costuma ser uma boa solução. Além de que o efeito que o vomitado faz ao atingir o chão pode dar origem a momentos idílicos, apenas comparáveis aos que se passam com uma boa garrafa, deitado em erva macia a olhar para as nuvens e a associá-las a objectos, formas ou pessoas que conhecemos.
Vomitar bem é uma arte menosprezada e que requer prática. Porque nem toda a gente começa logo a vomitar bem.
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